sábado, 19 de outubro de 2013

O verme


Aquilo que fere cura. A lança de Aquiles curou uma ferida que fez. Saber disso me despertou a vontade de escrever, então comecei a revirar alguns livros velhos, livros mortos, livros enterrados, a abri-los, a compará-los, catando o texto e o sentido para achar a origem e o pensamento. Pensei em catar os próprios vermes dos livros, para que me dissessem o que havia nos textos roídos por eles. Imaginei a seguinte resposta vinda de um grande verme gordo:

- Nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhemos o que roemos, nem amamos, nem detestamos o que roemos; nós roemos.


Não tem como arrancar nada dos vermes. Os outros todos, provavelmente, repetiriam as mesmas palavras. Talvez esse discreto silêncio dos textos roídos seja ainda um modo de roer o roído.

Pense.

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