Existem pessoas
que tem o estranho desejo de ser estrela. Mas que desejo é esse, leitor? Ser
estrela? Talvez a causa do desejo seja um grande medo: o medo de não dar certo
na vida. Já perceberam como verificamos timidamente a glória alheia e
lamentamos o nosso tosco fracasso, mesmo sem entender o que é o fracasso?
Olhamos lacrimosos ou invejosos os sem número de sorrisos na face da vitória
que mora no outro quarteirão. Sabemos pouco dos dissabores, até porque essa
sociedade líquida nos ensina a esconder o que é denso e a densidade está na
dor, na dúvida, na recordação, na essência. Percorremos sem obstáculo as
aparências, as dos outros e as nossas, e trancafiamos em algum porão tanto a
nossa essência como as lentes de amor que nos fazem compreender o outro além do
sorriso ensaiado.
Fique claro que
não sou contra sorriso, muito pelo contrário, o sorriso enfeita qualquer
relação. Mas o sorriso treinado é falso, a vida não é uma pose para fotografia.
A vida é uma viagem que a bagagem deve ser proporcional à necessidade do
viajante. Penduricalhos enfeiam e pesam, sobremaneira, e escondem o essencial.
O medo do
fracasso faz com que desfilemos vitórias e que não assumamos a nossa
humanidade. Somos humanos, sim, e frágeis, amigo! Porque, então, fingir que não
precisamos uns dos outros? Não há ninguém que possa atirar uma pedra na
pecadora. Jesus sabia disso e surpreendeu mais uma vez, não disse o que
deveriam fazer, apenas acendeu a lâmpada:
quem não tem pecado, atire a primeira pedra.
Define-se quem
tem e quem não tem importância pelo dinheiro, pela beleza, pelo poder. E as
amizades nascem do álcool imediato que queima rápido e de uma única vez. São
perfeitos que buscam perfeitos para desfilarem juntos em uma sociedade
perfeita. Amigo, é triste perceber como a frivolidade tomou conta das relações,
sejam elas afetivas ou profissionais. Fala-se o que se deve não o que se sente;
mostra-se o que é mais útil, não o que revela mais os esconderijos bonitos de
toda a alma. Não que tenhamos que dizer o que somos o tempo todo para o
primeiro ouvinte desprevenido, não! Mas o problema é que não revelamos sequer a
nós mesmos quem somos, ou pior, temos preguiça de procurar em nós mesmos quem
somos! E por isso, não somos. Não por uma decisão de Deus, mas por uma teimosia
humana em aparentar apenas o que agrada.
Que necessidade
é essa de agradar o tempo todo? Somos gente, não semideuses; somos povo e não
príncipes e princesas de contos imaginários. Não há perfeição, leitor, há
manias, idiossincrasias, bobagens que colecionamos, mas que fazem parte de nós.
Haverá algum momento em que conseguiremos resistir à tentação dos holofotes? Iluminaremos
a nós mesmos, sozinhos, sem medo da monstruosidade da primeira impressão? Sem
essas iluminâncias, dificilmente saberemos quem somos. E, se não soubermos,
nossa vida será apenas um desfile e os desfiles terminam, o show acaba e o
artista tem de voltar para a sua solidão. E o sucesso, amigo, talvez não esteja
no aplauso, mas na solidão.
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