sábado, 2 de março de 2013

A pêndula



Sofro de insônia. Há noites em que simplesmente não posso dormir; estiro-me na cama, mas é o mesmo que nada. Então, ouço todas as horas da noite. Sempre que perco o sono, o bater da pêndula me faz muito mal; esse tique-taque soturno, vagaroso e seco parece dizer, a cada golpe, que eu tenho um instante menos de vida. Então imagino um velho diabo, sentado entre dois sacos, o da vida e o da morte, tirando as moedas da vida para dá-las à morte e a contá-las assim:

- Outra de menos...
- Outra de menos...
- Outra de menos...
- Outra de menos...

O interessante é que, se o relógio para, eu troco as pilhas, para que ele não deixe de bater nunca e eu possa contar todos os meus instantes perdidos. Invenções há que se transformam ou acabam; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao se despedir do sol frio e gasto, há de ter um relógio para saber a hora exata em que morre.

Na noite passada, no entanto, não padeci essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As fantasias tumultuavam-me aqui dentro, vinham umas sobre as outras... Não ouvi os instantes perdidos, mas os minutos ganhos. De certo tempo em diante não ouvi mais coisa nenhuma, porque o meu pensamento, traquinas, saltou pela janela e bateu asas...

Um comentário:

  1. Dona Juliaanaa!!
    Tudo bem, flor?

    As noites insones também me perseguem, mas costumam ser as mais produtivas. Como você mesmo disse, meu pensamento salta pela janela e bate asas.

    Estava com saudades daqui. Eu saio da blogosfera, mas a blogosfera não sai de mim.

    Tô começando outro blog. Depois, dá uma passadinha lá.

    http://quandooeupassar.blogspot.com.br/

    Beijos!!

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