O medo de não
ser amado é doloroso demais. É como um botão fechado de flor, cada vez que se
contempla o jardim, vê-se o botão e se tem esperança de que um dia ele haverá
de desabrochar... A esperança alimenta a dor. Quanto mais o ávido de amor se
aproxima, mais sente a resposta dos espinhos. E há tantas outras flores! Quem
sabe por que aquela e não outra qualquer foi a escolhida? Os sorrisos se
perdem, o mundo se apequena, nada mais tem sabor... Os encontros voltam a
perder o significado porque só uma mão interessa para ser enlaçada. Os dizeres
de tantas vozes carinhosas se perdem, é a surdez da espera de uma única
sinfonia que talvez ainda nem tenha sido composta.
Projeções.
Sartre chama isso de inferno: o inferno são os outros, diz ele. O inferno são
os outros porque projetamos nos outros a nossa realização e aguardamos deles
uma ação que amenize o vazio que nos habita. Isso não é possível, porque cada
um tem de experimentar o território sagrado do silêncio e da solidão. E cada
um, para existir de fato, tem de dar conta do próprio vazio. Cecília Meireles,
certa feita, revelou que sua infância de menina sozinha lhe rendeu duas coisas
que parecem negativas e que foram sempre positivas: silêncio e solidão.
Acredito que as
pessoas que se apaixonam e não são correspondidas tem esse medo do silêncio que
desnuda os sentimentos e edifica o oráculo, a intimidade dos segredos que
segregam quando não há barulho a parte mais complexa das nossas dores. Fala-se
muito pra que o silêncio não revele o essencial, é o temor que tem a face
embrutecida pela rudeza das opções equivocadas em se perceber novamente. Por
que não olhar e entender os exageros cometidos? Não falo dos choros
prolongados, das noites barulhentas, das histórias recorrentes fantasiosas de
um amor sem amor. Falo do medo esquisito de sair do escuro e reencontrar a luz.
Há tantos que desistem da luz e que rastejam em busca de alguma migalha que
chamam ‘atenção’, ou pior, ‘amor’, e que usam pra desculpar alguma estranheza
do objeto amado. Sim, porque o causador da tempestade se torna um objeto
presente nos pensamentos e nas conversas, vivificado em sonhos e em bilhetes.
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