sábado, 10 de novembro de 2012

Projeções




O medo de não ser amado é doloroso demais. É como um botão fechado de flor, cada vez que se contempla o jardim, vê-se o botão e se tem esperança de que um dia ele haverá de desabrochar... A esperança alimenta a dor. Quanto mais o ávido de amor se aproxima, mais sente a resposta dos espinhos. E há tantas outras flores! Quem sabe por que aquela e não outra qualquer foi a escolhida? Os sorrisos se perdem, o mundo se apequena, nada mais tem sabor... Os encontros voltam a perder o significado porque só uma mão interessa para ser enlaçada. Os dizeres de tantas vozes carinhosas se perdem, é a surdez da espera de uma única sinfonia que talvez ainda nem tenha sido composta.

Projeções. Sartre chama isso de inferno: o inferno são os outros, diz ele. O inferno são os outros porque projetamos nos outros a nossa realização e aguardamos deles uma ação que amenize o vazio que nos habita. Isso não é possível, porque cada um tem de experimentar o território sagrado do silêncio e da solidão. E cada um, para existir de fato, tem de dar conta do próprio vazio. Cecília Meireles, certa feita, revelou que sua infância de menina sozinha lhe rendeu duas coisas que parecem negativas e que foram sempre positivas: silêncio e solidão.

Acredito que as pessoas que se apaixonam e não são correspondidas tem esse medo do silêncio que desnuda os sentimentos e edifica o oráculo, a intimidade dos segredos que segregam quando não há barulho a parte mais complexa das nossas dores. Fala-se muito pra que o silêncio não revele o essencial, é o temor que tem a face embrutecida pela rudeza das opções equivocadas em se perceber novamente. Por que não olhar e entender os exageros cometidos? Não falo dos choros prolongados, das noites barulhentas, das histórias recorrentes fantasiosas de um amor sem amor. Falo do medo esquisito de sair do escuro e reencontrar a luz. Há tantos que desistem da luz e que rastejam em busca de alguma migalha que chamam ‘atenção’, ou pior, ‘amor’, e que usam pra desculpar alguma estranheza do objeto amado. Sim, porque o causador da tempestade se torna um objeto presente nos pensamentos e nas conversas, vivificado em sonhos e em bilhetes.

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