sábado, 28 de setembro de 2013

Do amor, puro e simples


Um dia desses, um amigo estava tentando esconder o choro pela morte de seu cachorro. Ele tentava dar as razões da dor, dizendo todo tipo de racionalidades... O cachorro havia sido encontrado na rua, cheio de ferimentos e de doenças. Sobreviveu com os cuidados da família e viveu 14 anos com eles. Ganhou um nome, ganhou amigos que se preocupavam com ele, ocupou de preocupação e de ternura o pequeno apartamento.

Eu ouvia o relato e dizia que nenhuma explicação era necessária para que as lágrimas revelassem um afeto por uma criatura da natureza. E quanto mais eu dizia, mais ele chorava dizendo que o cãozinho era a grande prova da gratuidade do amor. Não se preocupava com presentes, nem exigia um corpo perfeito ou joias de adorno... Apenas carinho. “Que bom”, dizia ele, “se os seres humanos fossem assim”.

Leitor, o ser humano é assim! É que sua essência fica acanhada diante da saliência da aparência. Mostram-nos coisas e nos convencem de que nossa importância será medida por elas. E pensar que Quintana queria apenas a simplicidade da água bebida na concha da mão¹. As sacolas, as mulheres em pontos de ônibus escondendo e embrulhando felicidades... Não é nada extraordinário e, por isso mesmo, é extraordinário. É a vida sem disfarces, em realidades que desconhecemos, mas que imaginamos.


Com ternura, por favor.
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¹ Trata-se de uma dedicatória escrita por Mário Quintana.

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