Um dia desses,
um amigo estava tentando esconder o choro pela morte de seu cachorro. Ele
tentava dar as razões da dor, dizendo todo tipo de racionalidades... O cachorro
havia sido encontrado na rua, cheio de ferimentos e de doenças. Sobreviveu com
os cuidados da família e viveu 14 anos com eles. Ganhou um nome, ganhou amigos
que se preocupavam com ele, ocupou de preocupação e de ternura o pequeno
apartamento.
Eu ouvia o
relato e dizia que nenhuma explicação era necessária para que as lágrimas
revelassem um afeto por uma criatura da natureza. E quanto mais eu dizia, mais
ele chorava dizendo que o cãozinho era a grande prova da gratuidade do amor.
Não se preocupava com presentes, nem exigia um corpo perfeito ou joias de adorno...
Apenas carinho. “Que bom”, dizia ele, “se os seres humanos fossem assim”.
Leitor, o ser
humano é assim! É que sua essência fica acanhada diante da saliência da
aparência. Mostram-nos coisas e nos convencem de que nossa importância será
medida por elas. E pensar que Quintana queria apenas a simplicidade da água bebida na concha da mão¹. As sacolas, as
mulheres em pontos de ônibus escondendo e embrulhando felicidades... Não é nada
extraordinário e, por isso mesmo, é extraordinário. É a vida sem disfarces, em
realidades que desconhecemos, mas que imaginamos.
Com ternura, por
favor.
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¹ Trata-se de uma dedicatória escrita por Mário Quintana.
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