Já perceberam
como vivemos competindo com os acertos dos outros, tentando superá-los? E com
as falhas dos outros, tentando mostrar que não falhamos tanto? É sempre o outro
o nosso aplauso ou o nosso desprezo, o nosso sucesso ou o nosso fracasso. É
sempre o outro o prato principal. E eu, onde eu fico? Não se trata, leitor, de
egocentrismo, mas de identidade. Perdemos tanto tempo apontando para a
pecadora... Tanto tempo com as pedras na mão, talvez para que saiamos por aí
dizendo: pronto, foi ela a pecadora que foi apedrejada, não eu. E depois,
quando ficarmos a sós conosco mesmos, o que seremos capazes de dizer? Que deu
certo o nosso disfarce? Que não perceberam as nossas culpas na nossa
fragilidade? Vamos inventar outro idioma, como o javanês de Lima Barreto, para
que todo mundo fique surpreso com o que parecemos saber? E quando olharmos para
o lago imaginário, será que reconheceremos a nossa alma ou tentaremos enganar
também? Ou fingiremos não ver o visível? É preciso retirar as máscaras, amigo,
ninguém resiste ao disfarce por tanto tempo. É preciso mostrar a fragilidade e
aceitar ajuda!
É pena que desde
criança aprendamos o contrário. Os pais exigem que os filhos sejam campeões em
tudo, projetam nos filhos o que não foram, mentem narrando episódios novelescos
para aumentar a aura de perfeição e santidade... Cobram dos filhos os primeiros
lugares, as melhores notas, os posicionamentos mais carismáticos... Enfeiam a
vida infantil com exigências e cobranças toscas! Pobre infância sem infância!
Eu não tenho nada contra o progresso, tenho contra a aparência hipócrita, isso
porque, leitor, embora eu caia e chore muito, embora eu erre e me revolva em
erupções cotidianas tentando acalmar as lavas que me incendeiam para que o outro
não se assuste com o meu vulcão, eu tento compreender a minha essência.
Vocês sabem
quanto às dúvidas ocupam meu tempo... Já fiz coisas que não quis por não saber
dizer não, já fiz coisas que quis e das quais me arrependo, já deixei de fazer
o que devia por ter medo de magoar e já fiz o que não devia apenas para
agradar. O tempo nos empresta sabedoria, se assim o quisermos. E eu quero essa
sabedoria, até porque nossas escolhas com sabedoria ganham outro patamar. Não
que deixaremos de errar, mas o erro será bem vindo porque fará parte de uma
compreensão maior. E isso é a essência! As aparências fragilizam-se com o
tempo, a essência não.
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