Há uma reflexão
que me foi proposta nos tempos da minha graduação, quando eu ainda descobria os
encantos da filosofia, que diz: “Tudo que é sólido desmancha no ar”.
A frase de Marx estava escrita no quadro e o professor nos instigava a pensar a
pós-modernidade a partir dela. Recordo que o primeiro pensamento que me ocorreu
foi a ligação do conceito de sólido com o conceito de amor.
Cresci ouvindo
que o amor é um atributo divino esquecido nos humanos e que tem o poder de nos
salvar de nossas misérias. Cresci acreditando e, sobretudo, experimentando na
carne que o amor é um recurso que nos faz eternos. Só ele é capaz de nos livrar
da morte definitiva, do esquecimento absoluto porque nos reveste de memória que
será celebrada cada vez que formos recordados.
Amigo, gosto de
pensar que a primeira experiência humana que fazemos neste mundo é a
experiência do cuidado. A imanência histórica e social humana é uma situação de
finitude e de corporeidade dependente. Essa imanência nos empurra para o colo,
para a necessidade de sermos recolhidos, embrulhados, acariciados, adotados. É
assim que entramos no mundo: necessitados. Mas o limite é belo, a dependência é
bem vinda. É nela que reconhecemos o sólido onde firmamos os pés, é nela que
lançamos a base de nossa condição saudável de homens e mulheres naturalmente
afeitos e dispostos ao amor. A experiência antropológica do cuidado é uma
resposta a nossa precariedade.
A frase de Marx
está ligada a um contexto muito mais amplo, ele fala da instabilidade das
estruturas que até então sustentavam a sociedade. Os poderes estavam diluídos e
o tempo das certezas absolutas estava sendo reduzido a pó. Marx teve grandes
motivos para dizer tudo isto. A pós-modernidade estendeu na história as
consequências desta fragmentação. As grandes mudanças sociais moldaram uma nova
antropologia cuja principal característica é seu caráter provisório.
É lamentável,
amigo leitor, mas a mesma relação temporária e utilitária que estabelecemos com
as máquinas costuma ser repetida e aplicada nas relações humanas. Tudo que é sólido desmancha no ar,
inclusive o amor.
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