sábado, 13 de abril de 2013

Tudo que é sólido desmancha no ar



Há uma reflexão que me foi proposta nos tempos da minha graduação, quando eu ainda descobria os encantos da filosofia, que diz: “Tudo que é sólido desmancha no ar”. A frase de Marx estava escrita no quadro e o professor nos instigava a pensar a pós-modernidade a partir dela. Recordo que o primeiro pensamento que me ocorreu foi a ligação do conceito de sólido com o conceito de amor.

Cresci ouvindo que o amor é um atributo divino esquecido nos humanos e que tem o poder de nos salvar de nossas misérias. Cresci acreditando e, sobretudo, experimentando na carne que o amor é um recurso que nos faz eternos. Só ele é capaz de nos livrar da morte definitiva, do esquecimento absoluto porque nos reveste de memória que será celebrada cada vez que formos recordados.

Amigo, gosto de pensar que a primeira experiência humana que fazemos neste mundo é a experiência do cuidado. A imanência histórica e social humana é uma situação de finitude e de corporeidade dependente. Essa imanência nos empurra para o colo, para a necessidade de sermos recolhidos, embrulhados, acariciados, adotados. É assim que entramos no mundo: necessitados. Mas o limite é belo, a dependência é bem vinda. É nela que reconhecemos o sólido onde firmamos os pés, é nela que lançamos a base de nossa condição saudável de homens e mulheres naturalmente afeitos e dispostos ao amor. A experiência antropológica do cuidado é uma resposta a nossa precariedade.

A frase de Marx está ligada a um contexto muito mais amplo, ele fala da instabilidade das estruturas que até então sustentavam a sociedade. Os poderes estavam diluídos e o tempo das certezas absolutas estava sendo reduzido a pó. Marx teve grandes motivos para dizer tudo isto. A pós-modernidade estendeu na história as consequências desta fragmentação. As grandes mudanças sociais moldaram uma nova antropologia cuja principal característica é seu caráter provisório.

É lamentável, amigo leitor, mas a mesma relação temporária e utilitária que estabelecemos com as máquinas costuma ser repetida e aplicada nas relações humanas. Tudo que é sólido desmancha no ar, inclusive o amor.

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