sábado, 8 de dezembro de 2012

Tempo




Certa vez me deparei com um adolescente que chorava compulsivamente pela amada que partia. Ele queria o amor quente dos encontros do corpo; ela desculpava-se, exaltando a amizade; ele dizia as piores atrocidades contra a desalmada e depois abrandava a voz para narrar as palavras ditas em profusão; depois, novamente a rebeldia e mais uma vez a ternura lacrimosa. Assim mesmo: dual. Perguntou-me o que fazer. Eu falei sobre o tempo, sobre a beleza de chorar por alguém. De chorar por amor como consciência de estar vivo.

Chorar por amor é melhor do que sua ausência; chorar o tempo certo, depois é preciso viver. Era essa a sabedoria: chorar o tempo certo. O tempo da compreensão de que o outro simplesmente não nutre por mim os mesmos sentimentos... Talvez não passe de obsessão, de um pacto que eu fiz comigo mesma convencendo-me de que é o outro o anjo alado que terá de me encontrar para partilhar de minha história. Platão fala desse amor perdido e de sua busca, mas fala em discurso depreciativo.

Não há amor Eros quando apenas um ultrapassa a margem do rio. O banho não é solitário e não é inteligente jogar água em quem não quer se molhar. A distância é longa e por mais que um esteja enxaguado e se aproxime a contragosto do outro, a água será incômodo e não alívio. Sensação desagradável. Os pingos servirão para afastar ainda mais quem não quer, porque quem quer há de entrar nas águas abundantes de uma cachoeira cristalina, sem esconderijos. Aí sim o milagre do encontro acontece e os dizeres ganharão outro significado, mas será recíproco, nem que seja provisório. É o conhecimento da nova vida com suas saliências e reentrâncias, com seus sabores e estranhamentos; mas aos dois, não um implorando ao outro.

Outra jovem queria entender o que tinha mudado no amor que partiu. “Tantas palavras foram ditas”, resmungava ela, desconsolada. “Não é possível que fosse tudo mentira ou que eu tenha escutado alto demais...”. Talvez ele tenha dito isso tudo mesmo naquele momento e talvez não estivesse mentindo. Os sentimentos, depois de algum tempo, se organizam; as escolhas vão dando forma aos desejos e o que ontem aquecia, hoje afugenta. A dor da paixão traz esses infortúnios, mas passa se tivermos a maturidade de conversar com o tempo. O que dificulta é a impaciência, é a recorrência no erro de perfurar novamente o corpo dolorido. É claro que é melhor não nos afastarmos e irmos de mãos dadas, mas há tantas formas de amor...
“Compositor de destinos,
tambor de todos os ritmos:
tempo, tempo, tempo, tempo”.

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