A coluna
Dó-Ré-Mi de hoje abre espaço para um dos maiores fenômenos da música brasileira
de todos os tempos, os Novos Baianos.
O grupo era formado por Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor, Moraes Moreira,
Pepeu Gomes e Baby Consuelo (única não-baiana do grupo).
Em 1969,
enquanto aqui no Brasil a ditadura estava mais viva do que nunca, no hemisfério
norte a guitarra de Jimi Hendrix soava psicodélica. Porém, aqui, sambista não
se misturava com roqueiro, logo, quem gostava de Hendrix, achava Chico Buarque
careta. Os Novos Baianos conseguiram unir as duas coisas e transformaram o que
ainda era discurso na voz de Gil e Caetano em música da melhor qualidade: eles
uniram o rock com a riqueza harmônica da MPB.
Como se já não
estivesse bom o suficiente, eles tiveram aulas particulares com o genial
criador da bossa nova, João Gilberto. Foi com a ajuda dele que aprenderam o
valor que tem uma boa harmonia e o prazer do suingue brasileiro. Os Novos
Baianos uniram o tradicional ao moderno, foram do rock ao frevo, passando ainda
pelo choro, forró e afoxé.
Depois dessa
introdução aos Novos Baianos, vamos falar do disco (isso mesmo, tempos de LP)
de hoje: Acabou Chorare.
Capa |
A música de
abertura – Brasil Pandeiro – é um
clássico de Assis Valente, uma das mais belas canções compostas no Brasil. A
abertura já deixa claro o que eram os Novos Baianos: uma mistura de gêneros e
ritmos que compõem a identidade brasileira. Essa que é a minha música favorita
deste álbum expõe a coragem e ousadia dos integrantes quando cantam: “Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar
seu valor”. Preta, Pretinha,
talvez a mais lembrada até hoje, traz certo clima de confraternização. A única
mulher do grupo, Baby Consuelo, mostra força, suavidade e sensualidade em Tinindo, Trincando e A Menina Dança. As duas músicas são uma
mistura de rock com ritmos tipicamente nordestinos, como o baião. Acabou Chorare – música título – transpira
paz. É um momento de introspecção. Uma curiosidade é que Acabou Chorare foram palavras ditas por Bebel Gilberto, quando
criança, enquanto tentava dizer ao pai que estava bem. Aí temos a prova
concreta da influência do gênio da bossa, João Gilberto. Swing de Campo Grande e Besta
é Tu trazem o samba, ritmo que, em meio a grande mistura, sempre prevalecia. Não é a toa
que, mesmo depois de 40 anos de seu lançamento, Acabou Chorare continua sendo, na opinião dos loucos por música, um
dos maiores discos brasileiros de todos os tempos (chegando a figurar no topo
do ranking). Tanta inovação e irreverência continuam a ser descobertas pelas
novas gerações, exemplos disso são Roberta Sá e Mariana Aydar. Ambas beberam
dessa fonte.
O grupo
acabou se desfazendo em 1978 e seus integrantes seguiram carreira solo. Eles
continuaram a unir estilos obtendo resultados ainda brilhantes.
Mas a melhor
descrição que fica desse grudo fenomenal, foi feita pelo próprio Luiz Galvão no
encarte do disco. Ele diz:
"Não é uma família. Talvez um time. NOVOS BAIANOS. Mais perto do
som. No seu mundo subterrâneo. À beira do abismo. Por fora de 'Ismos'. Na
porta. Varrendo o terreiro. Lavando os pratos como quem faz música. Sem
prantos, na fonte, na boca da criação..."
Faixas1:
Lado
A
|
Lado
B
|
3. Besta é Tu
|
|
5. Preta, Pretinha (Reprise)
|
"Brasil,
esquentai vossos pandeiros
Iluminai os
terreiros
Que nós queremos
sambar".
(Brasil, Pandeiro)
____________________
Para fazer justiça, preciso confessar que neste
disco meu coração se divide entre duas canções: Brasil Pandeiro e Mistério do
Planeta.
1 Para ouvir as músicas, basta clicar.
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