Temos esse poder, o poder de dar
significado as pessoas que amamos. O poder de tirá-las do meio da multidão e
ajudá-las fraternalmente.
Sofro das
ausências, mas sofro de mãos dadas. O presente é muito grande, o mundo também.
É por isso que de mãos dadas fica mais fácil ou pelo menos mais belo. Quando eu
vejo as pessoas indo de um lado a outro, algumas com expressão leve, outras
cansadas, desanimadas, algumas vagarosas, outras apressadas, fico imaginando o
encontro... Aquele homem que vai é um homem a mais que vai, mas ele chega e
encontra alguém que dá significado a sua existência porque sente a sua
ausência. Sentir a ausência de alguém é dar sentido a sua existência, é uma
criança que exulta ao entrar em casa sabendo que alguém estava a sua espera.
Chegar e não
encontrar é dor doída demais... É sentir-se esquecido, desprovido de cuidado. É
estender as mãos pra ninguém. O encontro com o outro, ou até mesmo com os
cantos que escolhemos pra descansar de nossas andanças nos alivia. Como é bom
voltar! Voltar a casa, voltar à consciência, voltar ao enredo que ficou
esquecido em algum lugar no recôndito dos nossos sentimentos.
As idas e vindas
cotidianas são transformadas em encontro, com o outro ou com a gente mesmo. É
uma pausa na ausência do significado. Somos desertores do que dá essência ao
que significamos. Transitamos de um lado a outro, vemos e não enxergamos
ninguém... São travessias ininterruptas de desconhecidos, ao passo que quando
são reconhecidas as pessoas se transformam. Sorrisos, dizeres, acenos... Um
gesto que seja e aí está o significado. Temos
esse poder, o poder de dar significado as pessoas que amamos. O poder de
tirá-las do meio da multidão e ajudá-las fraternalmente.
Pessoas caídas
que precisam de uma mão, temos duas. Pessoas fragilizadas precisam de uma
palavra, temos tantas e as usamos com tantas imprecisões, com tanto desperdício
que na hora certa acabamos calados, economizando elogios, ternura...
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