"Feed-back for a dying young man". Quando ouvi, pensei: impossível
traduzir.
Ok. Este é um poema que Renato
Russo fez e dedicou ao seu amigo Cazuza. Assim, em inglês. "Feed-back
for a dying young man", é um poema forte, denso, cheio de intenções e
mistérios. Mas porque Renato, sendo brasileiro, necessitava que outra pessoa
traduzisse um poema seu escrito em inglês perfeito? Talvez isso acentue a minha
tese de que não existem bilíngues... Mas a verdade é que traduzir isto não
seria uma tarefa fácil, nem para alguém como Millôr Fernandes.
O problema já vem estampado no
título. Feed-back funciona como um
jogo de palavras. Seria algo como ‘microfonia’, ou melhor, um retorno de som.
Já traduzir dying como ‘moribundo’
tiraria todo o romantismo contido em uma poesia. Ainda assim, Millôr traduziu.
Como contou o próprio Millôr
Fernandes, Renato ficou escandalizado ao ler a tradução de sua própria poesia.
Murmurava: “Deus do céu, eu escrevi isso?” Sim, Renato, escreveu.
"Canção retorno para um
amigo à morte"
Alisa a testa suada do rapaz
Toca o talo nu ali escondido
Protegido nesse ninho farpado sombrio da semente
Então seus olhos castanhos ficam vivos
Antes afago pensava ele era domínio
Essas aí não são suas mãos são as minhas
E seguras, minhas mãos buscam se impor
Todo conhecimento do jorro viril do meu senhor
O gosto perfumado que retém minha língua
É engano instalado e não desfeito
Seus olhos chispantes podem retalhar minha pele bárbara
Forçar toda gravidade a ir embora
Ele vadeia em águas fechadas
Sono profundo altera seus sentidos
A meu único rival eu devo obedecer
Vai comandar nosso duplo renascer:
O mesmo
Insano
Sustenta
Outra vez.
(os dois juntos junto de nossos próprios corações)
Calei e escrevi
Isto em reverência
Pela coincidência
Alisa a testa suada do rapaz
Toca o talo nu ali escondido
Protegido nesse ninho farpado sombrio da semente
Então seus olhos castanhos ficam vivos
Antes afago pensava ele era domínio
Essas aí não são suas mãos são as minhas
E seguras, minhas mãos buscam se impor
Todo conhecimento do jorro viril do meu senhor
O gosto perfumado que retém minha língua
É engano instalado e não desfeito
Seus olhos chispantes podem retalhar minha pele bárbara
Forçar toda gravidade a ir embora
Ele vadeia em águas fechadas
Sono profundo altera seus sentidos
A meu único rival eu devo obedecer
Vai comandar nosso duplo renascer:
O mesmo
Insano
Sustenta
Outra vez.
(os dois juntos junto de nossos próprios corações)
Calei e escrevi
Isto em reverência
Pela coincidência
Sorry, Millôr. Mas tem coisas
que é melhor não traduzir.
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