sábado, 18 de junho de 2011

O medo de ter medo


Agorafobia¹. Este é o termo.

De repente o coração dispara, taquicardia, a respiração fica ofegante e... seca. O ar parece não encontrar o seu caminho. Um suor frio toma conta do seu corpo, o mundo parece ter perdido a cor, e o chão desaparece debaixo dos seus pés... Medo, muito medo. Pânico.

Foi o que aconteceu comigo há um ano, num terminal integrado de ônibus. Como um sonho ruim, o pânico apareceu sem dar aviso. Desse dia em diante, nada mais deu certo. Meu quarto tornou-se meu refúgio, o mundo... um tormento. Mas como isso poderia estar acontecendo com uma jovem de 20 anos? Uma vida inteira pela frente e eu ali... trancada naquele quarto. Porque eu me sentia mal? O que estava acontecendo comigo?

Não tive tempo de procurar respostas... Como numa montanharrussa, com altos e baixos, os sintomas voltaram. Pronto socorro. Queixa? Cansaço, falta de ar... Uma bateria de exames clínicos depois, a conclusão: “clinicamente, sua saúde está perfeita”.

Com o diagnóstico vieram os olhares de descrença. A flagelação psicológica:

- Você não tem nada, menina. Levanta dessa cama!
- Eu não consigo... To me sentindo muito mal.
- Aconteceu alguma coisa que você não quer contar?
- Não, nada.
- Então levanta dessa cama que você não ta doente.

A caminho da Faculdade. A ansiedade parecia tomar conta de mim. É chegada a hora. O ônibus se aproxima. Preciso me separar da minha mãe e seguir sozinha. De repente, o medo. As lágrimas. O desespero tomou conta de mim. O olhar intenso de minha mãe, sem entender. Volto para casa, chego ao meu quarto e tudo parece melhor. No dia seguinte, tudo se repete. E repete. E repete...

Sim, eu estava doente. Não do corpo, mas da mente. Era preciso deixar de lado o preconceito e encarar os fatos. A consulta com uma psiquiatra foi melhor do que eu esperava, afinal, ela me entendeu. Sim, finalmente alguém me entendeu! Ela me olhou de um jeito acolhedor e disse: “você está sofrendo de síndrome do pânico e deve se afastar de suas atividades acadêmicas até que se sinta segura novamente”. Mas a segurança não veio...

Era necessário um encontro com alguém muito especial: eu mesma. A psicoterapia se fez necessário, até eu descobrir que tudo o que eu precisava era de um pouco de força. Eu estava no 7º período de Direito, com um excelente desempenho acadêmico e muito infeliz. E como se já não bastasse a infelicidade de cursar algo que não gostava, vivia cheia de cobranças... “Você é bolsista, tem que tirar boas notas; tem que ficar com uma boa média para conseguir especializar naquela Universidade; a monografia, tem que começar logo; o estágio, menina...; concurso, você tem que passar num concurso público!”

Tomei a decisão, até então, mais importante da minha vida: larguei a Faculdade. Hoje, estou em tratamento contra o pânico, já não tenho crises há algum tempo. Sinto-me bem melhor longe daquele ambiente que me fazia tanto mal. Sem cobranças e sem o medo que me afligia de ter que viver de algo pelo qual eu não tinha amor. A angústia de ter perdido um tempo precioso com algo que não me levaria a canto algum...

Não, isso não foi um desabafo. O objetivo deste texto é outro, o de ajudar quem esteja passando pela mesma situação. O pânico é uma doença. E é mais comum do que parece. Atinge duas vezes mais mulheres que homens. E está relacionado a crises de ansiedade. O melhor de tudo, gente, é que tem cura!

Apesar de ser uma doença comum nos dias de hoje, as pessoas ainda demonstram um certo preconceito. Não se deixem abater! Entendam que com as cobranças atuais, dos outros e de nós mesmos, estamos cada vez mais vulneráveis. E não, não é apenas o corpo que adoece, mas a mente também! O primeiro passo é assumir. Não tenha vergonha de procurar ajuda. Ela é necessária. E com um pouco de força de vontade, você verá que tudo irá voltar ao normal.

“E todo o medo, o desespero
e a alegria.
E a tempestade, a falsidade,
a calmaria.
E os teus espinhos
e o frio que eu sinto.
Isso vai passar... também!”

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¹ Sobre a ‘agorafobia’, um esclarecimento: O medo de ter medo é algo comum entre quem sofre de Síndrome do Pânico. Geralmente, quem sente uma vez, por algum motivo, os sintomas descritos acima, cria um certo “medo de sentir medo” novamente e, assim sendo, ter os terríveis sintomas de novo. A sensação de quem está tendo uma crise de pânico é a mesma de um desmaio ou de um infarto.


Um comentário:

  1. "Era necessário um encontro com alguém muito especial: eu mesma."
    Muito bem, Juliana!Você tomou a melhor decisão e mais desafiadora de todas, encontrar-se. Essa busca é uma aventura em fim e somente os corajosos embarcam nela! Gostei daqui
    voltarei, abraços

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