A coluna Dó-Ré-Mi de hoje traz o CD de estreia
de um dos fenômenos mundiais da Soul Music, a cantora e compositora inglesa de
Soul e R&B, Joscelyn Stoker. Eu sei, provavelmente você nunca ouviu falar
nesta cantora, mas foi com esse nome que veio ao mundo Joss Stone, como hoje é
conhecida.
Joss Stone |
Joss apareceu
para o mundo em 2003 com apenas 16 anos, alguns clássicos de Soul e um vozeirão
de arrepiar. Jovem, bonita, loira e de aparência angelical, Joss parecia ser o
tipo perfeito de garota procurada para integrar o Clube do Mickey (se é que você me entende). Porém, desde muito
cedo, a menina mostrou ter um gosto peculiar por antigos clássicos da Soul
Music interpretados principalmente por Aretha Franklin (considerada o expoente
máximo deste estilo). Graças às interpretações de Stone para antigos clássicos,
a proposta inicial, que era a de produzir um disco de inéditas, acabou sendo
transformada em uma “Sessão de Soul”, ou The
Soul Sessions, que é o que vamos discutir hoje.
The Soul Sessions |
Como você pode
notar, a capa do álbum não revela o seu rosto e esta foi uma atitude inteligente e louvável. Compreenda, quando Joss
surgiu, a Soul Music vivia um momento de carência de novos ídolos, então não
seria uma tarefa simples convencer as pessoas de que uma garota loira poderia
cantar Soul. Logo, ao comprar o disco, as pessoas eram atraídas pelo
conteúdo e não pela capa. E aí está a magia da coisa: de dentro do disco surge
um repertório de peso e um vozeirão incrível.
O The Soul Sessions em momento algum se
mostra um álbum pretensioso, eu o considero até bastante simples. Trata-se de
covers de Soul dos anos 60 e 70 muito bem selecionados e uma única faixa mais
recente, como verão adiante. A canção que abre o disco, "The Chokin'
Kind", foi gravada
originalmente por Waylon Jennings, em 1967. Aí você já pode notar toda a qualidade da garota, que possui uma voz
que não precisa de firulas para se destacar. A voz doce e ao mesmo tempo
poderosa fala por si e confunde quem apenas escuta sem saber quem canta. Ou vai
me dizer que você não imaginaria uma cantora bem mais velha? Pois é. Isso é
magia.
Na sequência temos um de seus maiores hits: "Super Duper Love (Are You Diggin' On Me) Pt. 1". Joss Stone se apropriou de tal maneira
dessa música, que você, provavelmente, pode até pensar que pertence a ela. Mas
sinto ter que desapontá-lo, essa canção foi gravada pelo Sugar Billy, em 1974.
Essa foi a faixa mais executada nas rádios mundo afora. Aqui no Brasil,
inclusive, ela fez parte da trilha sonora da novela global Da Cor Do Pecado. É interessante observar que essa música cresceu
junto com a Joss. Hoje, em seus shows, é um acontecimento a parte. Vale o
clique (AQUI) para conferir esse que eu considero como um dos momentos mais
incríveis de sua carreira (e é aqui, em terras Brazucas!).
A faixa 3 traz o primeiro single do The Soul Sessions e a regravação de data
mais recente. “Fell in Love With a Boy”
é uma versão mais retrô para
um rock dos White Stripes chamado Fell in Love With a Girl, de 2001. É o tipo de Soul/Funk que te faz
bater o pé e balançar a cabeça no ritmo. Em seguida, na faixa 4, temos o
retorno ao Soul dos anos 60/70 com "Victim of a Foolish Heart",
originalmente gravada por Bettye Swann, em 1972. Essa é uma das minhas faixas
favoritas do The Soul Sessions graças
à interpretação simples, porém emotiva que a jovem Soul Singer ofereceu a canção.
A próxima faixa é de 1967 e foi gravada por Laura
Lee: “Dirty Man”, que em bom
português quer dizer Homem Sujo. A
versão da Joss Stone traz apenas o acompanhamento de um violão e uma guitarra
melódicos, além de muito feeling por parte da garota. Simples (como, aliás, é
todo o CD), porém arrebatadora. “Some
Kind of Wonderful” é simplesmente maravilhosa. A gravação original data de
1967 e foi realizada pelo Soul Brothers Six. Preste atenção, mais uma vez, na
interpretação da menina que, apesar da pouca idade, consegue soar como uma
cantora experiente e segura de si.
Seguindo a
lista, temos uma música gravada pela Carla Thomas em 1968. Refiro-me a “I’ve Fallen in Love with You”. Essa
faixa já não é tão simples como as demais, tem um arranjo mais desenvolvido e
eu realmente prefiro a versão dada pela Joss que a original. A seguir, “I Had a Dream”, música de 1970 gravada
por um cara chamado John Sebastian. O foco mais uma vez está na voz e
interpretação de Stone: simples, tocante e de bom gosto.
A penúltima
canção é a que considero de maior risco do álbum, pois quem originalmente a
interpreta é ninguém menos que Aretha Franklin, aquela que no começo deste
texto eu falei que é o expoente máximo
deste estilo e ídolo maior de Joss Stone. É simplesmente considerada a
maior cantora de todos os tempos e, quando o assunto é demonstrar sentimentos
através da música, ninguém a alcança. Vale ressaltar que nunca foi pretensão
dela regravar Aretha. Ela diz que algumas canções ela não queria gravar, mas a
fizeram. “Não quero fazer cover da
Aretha. Ela é a rainha, por que faria isso? Quando eu era menina, pedia: ‘não
me façam cantar essa canção’”, declarou. E sobre a música, “sei que muitos podem gostar, eu não. Eu
fico envergonhada”. “All the King’s
Horses” foi a prova de fogo do The Soul Sessions. Ela poderia ter
escorregado, mas não escorregou; pelo contrário, fez uma performance brilhante.
Fechando o
disco, “For the Love of You Pts. 1 &
2”, originalmente gravada pelos integrantes dos Isley Brothers. Essa é a
faixa de destaque para mim, embora não seja a faixa de destaque do álbum. É a
que mais me marcou pelo seguinte motivo: por trás da voz, apenas um teclado
suave, quase ausente, o que faz com que essa música seja praticamente um
acapella. Com isso, você consegue perceber toda a suavidade do trabalho vocal
dela e finalmente descobrir porque a menina do interior da Inglaterra chamou
tanto a atenção.
Vale ressaltar
que sim, é possível notar certo exagero, em algumas faixas, na interpretação da
Joss. Porém, é como se ela dissesse: ‘ei, eu sou apenas uma adolescente!’ Uma
adolescente que soube não soar como uma estreante e esse foi o seu maior êxito.
Um álbum
simples, porém genial, assim eu definiria o The Soul Sessions. Tudo foi feito
na medida certa, apenas o suficiente para escancarar o talento da jovem Soul Singer. Nada de arranjos
sofisticados. Tudo muito simples, apenas para evidenciar a voz da garota.
Claro, com exceção das faixas Super Duper Love e Fell in Love with a Boy que
são mais populares e claramente incluídas para fazer com que a Joss chegasse
até as rádios e se tornasse popular. Então, não tinha como dar errado, não é
mesmo? A partir daí, graças ao talento e carisma, Joss começou a colecionar
prêmios e fãs ao redor do mundo.
Uma coisa que
quero que saibam é que, assim como a própria Joss, eu não gosto da voz dela
nesse período inicial de sua carreira. Comparado ao que posso ouvir hoje, ela
me soa estranha e o disco um pouco maçante. Mas entenda, é como se houvesse uma
voz muito poderosa esperando o momento de desabrochar, afinal, ela ainda estava
engatinhando e aprendendo. Hoje, a história é bem diferente...
“Senhoras e
senhores, quero apresentá-los Joss Stone! Ela é da Inglaterra e tem 16 anos de
idade...”
Faixas:
The Soul
Sessions
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Versões
originais
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Waylon Jennings (1967)
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Sugar Billy (1974)
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The White Stripes (2001)
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Bettye Swann (1972)
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5. Dirty Man
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Laura Lee (1967)
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Soul Brothers Six (1967)
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Carla Thomas (1968)
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John Sebastian (1970)
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Aretha Franklin (1972)
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The Isley Brothers (1975)
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Para ouvir as músicas, basta clicar no título da faixa ou no nome do intérprete original.
Se você gosta de documentário, CLIQUE AQUI e assista ao mini documentário The Soul Sessions, com pouco mais de cinco minutos.
E desculpem o tamanho do texto. Esse é um dos motivos pelo qual as críticas a álbuns demoram a sair.
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