Preciso
confessar: tenho medo de passar pela vida sem realmente experimentar os
desdobramentos mais salutares de minha capacidade de amar. Vejo as pessoas tão
perdidas em suas paixões, tão fadadas ao destino trágico da solidão assim como
foi o destino de Macabéa, a alagoana de ovários murchos em que Clarice
Lispector soprou o ar de literatura e fez viver nas páginas de “A Hora da
Estrela”.
Leitor, Macabéa
morreu grávida de futuro, mas não o partejou porque não amou. Limitou-se a
viver com os olhos presos no raso da vida, no presente medíocre e só. Do cais
do porto não quis a possibilidade da partida, ficou somente com o aperto no
coração cada vez que ouvia o sopro do navio anunciando novos destinos. Não
aprendeu que amar é partir, é rumar nas venturas que nos proporcionarão
encontros e crescimentos.
Preferiu
permanecer com os ovários murchos, metáfora de uma infertilidade que abrange a
totalidade da vida. A hora da estrela foi a hora da morte. Não
havia outro desfecho possível. Macabéa não poderia chegar viva ao outro lado da
avenida, pois não teria sonhos para continuar. Não teria um amor que a
encharcasse de motivos e a ajudasse a suportar as dores da vida.
O amor não pode
ser experimentado fora da dor... Aliás, ando pensando que a dor só tem sentido
se estiver costurada na bainha do amor. O que nos faz querer ficar ao lado,
ouvir o sopro do navio e aceitar os desafios da nova viagem é a certeza de
termos sido eleitos: amados e amantes comprometidos pelas mesmas causas,
resolvidos a querer a vida com todas as suas exigências. Os apaixonados, isto
é, os que sofrem de paixão, nem sempre chegam ao final, perdem-se antes do
término, morrem na travessia assim como morreu Macabéa. A paixão não costuma
ter planos para o futuro. É pragmática. Já os amorosos não se limitam ao tempo
presente, mas estabelecem metas que possam durar a vida inteira. Os apaixonados
nem sempre são portadores de ovários férteis, tampouco costumam estar grávidos
de um futuro que os faça driblar a sedução da morte prematura.
É, meu caro leitor,
também tenho procurado não morrer. Tenho diante dos olhos, que é sempre um modo
de encontrar, algo que necessita do meu amor. O desafio é não ser como a
Macabéa, a quem faltou coragem. Não posso simplesmente ouvir o anúncio de novos
destinos; é preciso ter forças para caminhar em direção aquilo que irá me
proporcionar crescimento. É como deve ser.
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