A amizade cobra seu preço. Não nos sentimos obrigados a dizer algo a quem amamos porque não se trata de obrigação. Sentimo-nos compelidos, impulsionados. Porque do mesmo sobrado demolido de Cora Coralina nascem flores que nos segredam poesia. Falei de Drummond e de sua convivência com os poemas antes do seu nascimento; de sua maiêutica. Da parturição que Sócrates propunha. Cada idéia tem de ser gestada antes de nascer.
Procuramos os nossos companheiros, como Drummond. O presente é tão grande... Não nos afastemos. Não nos afastemos muito. Vamos de mãos dadas. É melhor assim, o abraço solidário, a cumplicidade diante da dor do que palavras ditas sem a tal gestação. Sofro das ausências, mas sofro de mãos dadas. O presente é muito grande, o mundo também. É por isso que de mãos dadas fica mais fácil, ou pelo menos mais belo.
Quando eu vejo as pessoas indo de um lado a outro, algumas com expressão leve, outras cansadas, desanimadas; algumas vagarosas, outras apressadas... fico imaginando o encontro. Aquele homem que vai é um homem a mais que vai, mas ele chega. E encontra alguém que dá significado a sua existência porque sente a sua ausência.
Sentir a ausência de alguém é dar sentido a sua existência. É uma criança que exulta, ao entrar em casa, sabendo que alguém estava a sua espera. Chegar e não encontrar é dor doída demais. É sentir-se esquecido, desprovido de cuidado. É estender as mãos para ninguém. O encontro com o outro, ou até mesmo com os cantos que escolhemos para descansar de nossas andanças, nos alivia.
Como é bom voltar... Voltar à consciência, voltar ao enredo que ficou esquecido em algum lugar nos recônditos de nossos sentimentos. As idas e vindas cotidianas são transformadas em encontro, com o outro ou com a gente mesmo. É uma pausa na ausência do significado.
Quando são reconhecidas, as pessoas se transformam. Sorrisos, dizeres, acenos... Um gesto que seja, e aí está o significado. Temos esse poder, o poder de dar significado as pessoas que amamos. O poder de tirá-las do meio da multidão e ajudá-las fraternalmente. Pessoas caídas que precisam de uma mão... Temos duas. Pessoas fragilizadas precisam de uma palavra... Temos tantas! E as usamos com tantas imprecisões, com tantos desperdícios que na hora certa acabamos calados, economizando elogios, ternura.
“Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
A ausência é um estar em mim”.
(Carlos Drummond de Andrade)
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